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Running VS Science

Um blog científico cheio de curiosidades sobre a corrida, conselhos para melhorar a performance e entrevistas fenomenais a casos reais de pessoas comuns que venceram na corrida.

18 de Abril, 2017

A Corrida e o Ciclo Menstrual

Nádia Santos

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O exerício físico, nomeadamente a corrida, tem um papel muito importante na saúde da mulher. No entanto, a incidência de amenorreia (doença caracterizada pelo não aparecimento da menstruação em períodos em que é suposto aparecer) nas atletas continua a ser maior do que em mulheres sedentárias (De Souza and Williams, 2004), nomeadamente no atletismo.

 

Já nos anos 80, o aumento de mulheres atletas com problemas menstruais preocupava os investigadores. No entanto, apesar de vários estudos, a conclusão continuava ainda por ser tirada, uma vez que existem sempre diversos fatores a ter em consideração (idade, peso, % gordura, disfunções hormonais, etc). Nenhum dos estudos conseguia compreender se este aumento se devia exclusivamente ao exercício físico, aos fatores mencionados anteriormente ou até mesmo a um conjunto de ambos. 

 

É então que em 2010, De Souza MJ. e seus colaboradores decidem estudar a frequência de determinadas doenças do ciclo menstrual (tais como: defeitos da fase lútea; anovulação; amenorreia e oligomenorreia) em mulheres atletas com ciclos menstruais de 26 a 35 dias, usando medição diária de hormonas. As mulheres deste estudo (ativas e sedentárias) tinham aproximadamente a mesma idade, peso, IMC, anos de menstruação, entre outros; assim como de forma a se voluntarearem tiveram que passar por um chamado "medical screening" de forma a garantir que todas possuiam as características desejadas e necessárias à orientação do estudo. 

 

No fim do estudo, De Souza MJ, conclui que aproximadamente metade das mulheres ativas/desportistas, apresentaram distúrbios menstruais tais como defeitos da fase lútea e anovulação. Para além disso, 1/3 das mulheres desportistas, segundo as estatisticas deste estudo, podem vir a apresentar amenorreia. 

 

Já um outro estudo em 2016, orientado por Rebeca J. e seus colaboradores, baseando-se em estudos anteriores, referem que esta alta incidência de problemas menstruais em atletas, pode dever-se a uma deficiência de energia causada pelo exercício físico que consecutivamente pode dar origem a alterações metabólicas, havendo uma produção anormal de hormonas. No entanto, acreditam que um aumento calórico na alimentação (isto é, a reposição energética de forma a não entrar em défice) através duma alimentação adequada pode ajudar neste sentido, continuando a incentivar a mulher à prática de exercício físico. 

 

A forma de como o ciclo menstrual é afetado pela corrida ainda não está totalmente explicado, no entanto já é interrogado e estudado há mais de 20 anos. De qualquer das formas, com base no estudo orientado por Rebeca J, a mulher pode continuar a praticar exercício físico tranquilamente tendo sempre em atenção vários fatores como: reposição calórica (não entrar em défice e se pretender emagrecer consultar o médico nutricionista primeiro; manter uma % de gordura corporal aconselhável; IMC aconselhável; fazer testes hormonais).

 

Por fim, deixo-vos alguns artigos caso tenham mais curiosidade sobre este assunto :)

 

[1] Rebecca J. Mallinson, Jenna C. Gibbs, Mary Jane De Souza, "Impact of Physical Activity and Exercise on Female Reproductive Potential", Exercise and Human Reproduction, pp 167-185, 2016

[2] Mary Jane De Souza, "Physiological aspects and clinical sequelae of energy deficiency and hypoestrogenism in exercising women"Hum Reprod Update (2004) 10 (5): 433-448.

[3] Mary Jane De Souza, "High prevalence of subtle and severe menstrual disturbances in exercising women: confirmation using daily hormone measures", Hum Reprod. 2010 Feb;25(2):491-503

[4] Nancy I. Williams, "The Science of Healthy Menstruation in Exercising Women", The Official Publication of the National Academy of Kinesiology and the American Kinesiology Association, Vol. 6, Issue 1, February 2017

[5] Peter T. Ellison, "Moderate recreational running is associated with lowered salivary progesterone profiles in women", Am. J. Obstet. Gynecol., Volume 154 Number 5, May 1986

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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